O espelho preto é um monitor desligado

A trama do primeiro episódio é relativamente simples: para chantagear um homem de cargo político importante, terroristas virtuais sequestram a princesa da Inglaterra e o obrigam a realizar uma tarefa chocante, em frente às câmeras: ele precisará fazer sexo com um porco (!). O decorrer do episódio é extraordinário tanto em termos técnicos quanto emocionais, da mesma forma que o roteiro trabalha de forma profunda a teia de forças envolvidas a esse tipo de ataque - que vão da força policial/investigativa a serviço do político à imprensa e até mesmo a influencia da opinião popular na sua decisão final -, existe também o efeito que algumas cenas causam no espectador, como por exemplo a desconsertante verdade de que as pessoas se divertem em ver outras pessoas sendo humilhadas dessa forma - os sorrisos de alguns diante da exibição foi uma das coisas mais assustadoras que eu já vi. Esqueça a Samara, repense a Regan possuída pelo pazuzu e nem pense na Annabelle [btw, achei fraco], o ser humano dá de 10x0 nas três.


O desfecho é um espetáculo a parte; a trilha sonora e os cortes da edição entre as cenas finais e os créditos deram um efeito autenticamente pessimista aos desdobramentos do video e sequelas morais do protagonista. E uma revelação no finzinho da exibição do vídeo; no momento do resgate à princesa te faz sentir ainda pior do que vinha sentindo. É um primeiro episódio que anuncia uma série forte - sinceramente, eu não tive outra palavra pra comentar o fim [a não ser “rapaz…”]. Black Mirror, num tom sério e, portanto, mais respeitável traz algumas reflexões perturbadoras acerca de como a tecnologia vem transformando o ser humano. E, ao mesmo tempo, como existem fundamentos que antecedem a própria era da informação agindo no nosso uso dessas tecnologias, como, por exemplo, a necessidade medieval de escárnio alheio.
Competência tecnológica não é indicativo de emancipação intelectual. 
No decorrer da trama, vemos os mais variados dispositivos sendo usados contra e a favor das vítimas (a sequestrada e o chantageado) - sim, sendo usados, é importante ter isso em mente antes de atribuir algum julgamento moral acerca da forma como a tecnologia é utilizada. Antes de tudo, temos pessoas pensando por essas máquinas; e pensando, as vezes, apenas em seus próprios interesses. Doentios e perturbadores como forem.

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