Dividir e conquistar

Eu tava vendo o clube dos cinco, sabe?

É um filme dos anos 80 muito legal com uma porção de questões que parecem que são apenas adolescentes mas que, olhando bem, perseguem a gente bem mais adiante - não à toa, o próprio filme trabalha o papel dos pais nessas questões.

O enredo é bem simplezinho: 5 menines estão em detenção; eles são aparentemente super diferentes uns dos outros e se encaixam perfeitamente nos arquétipos mais conhecidos do colegial, que sããão: "Bonitão", "Princesa", "Nerd", "Delinquente" e "Estranha" e, talvez por isso mesmo, deverão escrever um texto de 1.000 palavras sobre o que pensam sobre os outros.


Alguns detalhes são bem interessantes, apesar de bem clichês - aliás, o maior problema dos clichês é 1) com a devida atenção e deixando de lado justamente o senso comum, eles são muito interessantes justamente porque 2) eles nos contam verdades. Vamos aos detalhes:

1) O principal antagonista é o diretor da escola (risos) que posa de paladino da moral, mas, posteriormente acaba denunciando a própria hipocrisia/canalhice;

2) Eles são supervisionados pouquíssimas vezes, mas isso não implica que não se sintam vigiados;

3) Antes da detenção, eles não se falavam e, durante boa parte dela, não confiam uns nos outros. Eu arriscaria apontar como motivo o fato de eles serem constantemente bombardeados com ideias de inveja e competição. A comparação, por exemplo, é um hábito constante de autoridades de diversas áreas e uma fonte dessas ideias;

4) A imagem que eles lutam a adolescência inteira para construir e manter é constantemente questionada, negociada e, principalmente, ameaçada. Se eles iniciam o primeiro contato justamente se valendo dessa máscara, terminam se entregando e se descobrindo surpreendentemente parecidos. Colocando de outra forma, é como se aquela aparência diferentona de cada um deles fosse sustentada por uma variação dos mesmos sentimentos em relação ao mundo, aos pais e uns aos outros - eles se sentem pressionados e, por isso mesmo, a imagem é muito mais um motivo de martírio do que fonte de satisfação consigo mesmos.

No fim, eu achei incrível como foi trabalhada essa vigia em cima dos mais jovens que só faz com que eles percam quase por completo a confiança neles mesmos. Não só isso, como "o sistema" lucra com essa segregação.

Infelizmente, a preparação que essas crianças recebem é para uma sucessão de abusos a seguir, nas mãos de quaisquer que forem as autoridades e suas vontades distorcidas. Predadores sempre acabam se unindo e se aproveitando dessas vítimas, arrancando delas o que bem quiserem [trabalho, segredos, diversão, prazeres sádicos, a alma...].

Do outro lado, a própria situação alimenta nessas vítimas a desconfiança em si próprias e nos outros, o que acaba as privando de situações como a retratada no filme e evitando que elas entrem em contato com pessoas que poderiam ajudá-las a vencer aquela situação.

O mais cruel de tudo isso é que, muitas vezes, essas pessoas são as mais próximas - às vezes de convivência diária. Só que essa convivência se limita a tratar dos interesses dessas autoridades ou de quaisquer coisas que não ameacem esse estado. É bem triste.

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