Super-Ego

Vamos reconhecer uma coisa, tem gente que nunca parece estar satisfeita com nada.

Eu acredito válido insistir um pouco na hipótese do superego alheio. Mais ou menos assim, incapaz de criticar a si própria, ou mesmo temente à possibilidade e, junto com ela, a rejeição, tem gente que se especializa em regras, normas de conduta e moral e com isso se munem pra uma guerra que só existe na cabeça delas. Talvez o medo de cair no erro seja tão grande que elas acabam se incumbindo [in]voluntariamente do papel de fiscais.


Segunda hipótese, narcisismo. É bem capaz de alguém se especializar tanto sem si próprio que acabe não enxergando possibilidade de acerto para além dos seus próprios paradigmas e crenças. E esse paradigmas são tão inculcados que essa pessoa realmente se crê dona da razão e única pessoa certa o suficiente. Na decepção que o mundo real as causa, vivem em insatisfação.

16/02/2018: Arriscando ainda mais alto, não foi pelo fruto do conhecimento do bem e do mal que Adão e Eva sucumbiram? Veja bem, eu não estou condenando o conhecimento, e sim o julgamento de valores que não reconhece nada além desses dois polos. Talvez o julgamento seja um poder realmente divino cuja dimensão e consequências sejam pesadas demais para o ser humano. Exemplificando, todo o julgamento proferido a outra pessoa permanecerá na mente do julgador e, sendo maior o número de condutas julgadas, menor será o seu campo de ação, uma vez que a sua moralidade também será cobrada - dado o fato de ele também ser humano. Então é um pequeno prazer a um custo muito alto para uma pessoa pagar.

Em ambos os casos, o trocadilho do Super Ego é válido, no sentido de criar para si próprio um grande EU que subjuga ou destrói tudo o que se detecta como ameaça. Porque o diferente é, sim, uma ameaça iminente a todos. O problema é que tipo de ameaça esse diferente representa.

Voltemos ao caso dos dois indivíduos citados na postagem anterior: o autocrítico e o julgador.

O julgador não é nada além de um moralista ambulante, tudo precisa passar pelo seu exame. Para o autocrítico, focado no desenvolvimento pessoal, é muito difícil perceber a ofensiva e encarar o moralista como tal. Existe também algo que acaba unindo ambos: o medo da rejeição.

A partir daí, ambos os lados permanecem interpretando papéis, o julgador servindo de superego para o autocrítico, numa posição que dificulta cada vez mais pra si próprio o fim do joguinho.

No fim, creio que exista aí um espelhamento: o autocrítico sadio projeta no julgador um crítico sadio e o julgador doente projeta no autocrítico um réu.

É bem óbvio pra qual lado a corda vai arrebentar. Mas isso não implica que o autocrítico seja necessariamente uma vítima: já imaginaram o que tanta insegurança de si próprio esconde, em alguém que entrega as próprias cordas ao outro com tanta boa vontade?

16/02/2018: Por falar em fruto proibido, o Death Note possuía uma regra interessante: o usuário não irá para o céu nem para o inferno. Daí fica essa dúvida, para onde vai a alma desse condenador?

Caso queira compartilhar..:

0 comentários