Manipulado[r]

As vezes o controle pode ser também uma ferramenta de alguém que teme a solidão, sabe? 

Uma outra amiga minha, numa tentativa realmente nobre de defender narcisistas manipuladores, proferiu a seguinte frase: 
As pessoas têm coisas ruins no kokoro [coração].

Recapitulando: o Alphabet Boy, ou O julgador, é um especialista em regras, mas um desaparecido em atitudes, certo? O que podemos inferir disso: tem um certo descomprometimento consigo mesmo nisso. Digo, por mais que ele faça algo para melhorar e evoluir, todos esses esforços são direcionados às regras. Sem ter algo de verdade pelo que se esforçar, se volta para [ou contra] outras pessoas.

Do outro lado: O autocrítico é bastante talentoso e age com frequência, mas, por algum motivo, não possui um bom juízo, não é? Ele, portanto, se deixa levar por alguém que se dispõe a tomar decisões por ele.

Então temos algo em comum entre os dois - uma espécie de metade da laranja, ou algo do tipo.

À parte da sociopatia ou psicopatia, boa parte dos julgadores não são maus - são covardes, no máximo. Eu digo covardes, pois se ater as regras e se conformar em repetir o que já foi testado é uma forma de se manter sempre dentro do esperado e não enfrentar o julgamento. Os autocríticos, por sua vez, também não são vítimas indefesas, muito menos "bonzinhos" - são, talvez em beem menor grau, covardes também. Eles também esperam usufruir do correto e o farão eternamente, temendo o julgamento dos julgadores - viram reféns desse medo de pensar por si próprios.

No fundo, eu vejo, em ambos, um pedido de socorro. Ambos tem uma questão mal resolvida. E ambos encontraram um no outro uma forma de resolver essa questão. O problema de ambos talvez seja o medir a própria força. Já pararam para pensar em como essas coisas ruins comprometem a habilidade de algumas pessoas cativarem outras e que as habilidades absorvidas dos outros, nas mãos delas, só conseguem produzir um cativeiro?


O caso de Gaara pode ser mais aprofundado e discutido em outra oportunidade, mas o seu exemplo é um tanto claro: o aperto e a pressão sempre foram abraços mal dados. Voltemos pro julgado[r].

Se o autocrítico não tem juízo e o julgador não tem autocrítica, é um tanto possível que o julgador, desprovido de autocrítica, veja como reforço positivo o comportamento de conformidade da autocrítica. Em outras palavras, ele é um covarde e um conformado, enquanto o autocrítico tem uma certa autonomia ao agir; então fazê-lo se sujeitar é um reforço à covardia do julgador - ele se sente mais certo em seu conformismo e, de quebra, anula a possibilidade de a diferença positiva do autocrítico o incomode. O autocrítico, por sua vez, pode também querer se ver na razão, por meio da aprovação do julgador - que sempre está a condenar a todos. Se a gente for parar pra pensar, não é muito diferente do que aconteceu aqui há mais ou menos 500 anos, em que nossos nativos trocaram seu ouro por espelhos e seus costumes por uma religião fundamentalista - uma forma de tentar se enxergar pelas ferramentas do outro. É uma relação predatória para ambos os lados - apesar de eu não estar aqui pretendendo, nem por um segundo, relativizar as responsabilidades e consequências.

Contudo, o autocrítico um dia vai colher também os frutos do bem e do mau que semeou e, talvez nele, descartará o julgador enquanto tal. A partir deste momento, o julgador precisará enfrentar o próprio julgamento e isso torna o seu jogo e as substituições das cobaias meras formas de adiá-lo. Eles se assimilaram, o que quer dizer que o autocrítico aprendeu a julgar por si próprio e o julgador adquiriu autocrítica - com a qual ele certamente não está acostumado.

Uma fábula agora: Maria foi presa na casa da bruxa, certo? E, com isso, foi obrigada a alimentar o irmão para saciar a fome da Bruxa, certo? Voltemos ao início da história, quando eles ainda estavam perdidos diante da casa de doces:

Se o erro de Maria foi grande, ao ser atraída pelos doces da casa e acabar confiando em uma sequestradora e seu cativeiro, qual foi o tamanho do erro da bruxa?

Não foi ela que abriu a porta para a sua própria assassina e a deixou entrar?

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